AS CARGAS INVISÍVEIS DA DOCÊNCIA: REFLEXÕES NECESSÁRIAS SOBRE SAÚDE MENTAL
DOI:
https://doi.org/10.56238/revgeov16n5-040Palavras-chave:
Saúde Mental Docente, Trabalho Emocional, Síndrome de Burnout, Condições de TrabalhoResumo
A docência contemporânea é marcada por um paradoxo: sua centralidade para o desenvolvimento social e o alarmante adoecimento psíquico de seus profissionais. Este artigo, uma revisão narrativa da literatura, tem como objetivo analisar as chamadas "cargas invisíveis" da profissão docente e sua relação direta com a crise de saúde mental na categoria. O referencial teórico ancora-se na Psicodinâmica do Trabalho de Christophe Dejours, para discutir o sofrimento e as estratégias defensivas; no conceito de Trabalho Emocional de Arlie Hochschild, para desvendar a gestão obrigatória das emoções; e no modelo tridimensional da Síndrome de Burnout de Christina Maslach, que define o esgotamento profissional. Essas perspectivas são confrontadas com dados empíricos de pesquisas nacionais (Instituto Península, Profsaúde, CNTE) e internacionais (OCDE/TALIS), que evidenciam a prevalência de estresse, ansiedade e esgotamento entre professores. A análise demonstra que as cargas invisíveis – de natureza psíquica, emocional e burocrática – são geradas por fatores estruturais, como a desvalorização salarial e a precarização das condições de trabalho, e por fatores microssistêmicos, como a relação com alunos, famílias e a gestão escolar. Conclui-se que a superação deste cenário exige a transição de um enfoque no autocuidado individual para a implementação de políticas públicas e ações institucionais concretas que tornem visíveis e aliviem essas cargas, reconhecendo que a saúde mental do professor é um pilar indispensável para a qualidade da educação.
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Referências
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